sexta-feira

D01.07:16

Sinto-me a recuperar. Não estava à espera de reagir assim... Ela está melhor, parece-me. Tem um outra cor e um outro olhar.
"De certeza que ficas bem? Não precisas que fique contigo?"
"Não, obrigado. A sério, não te preocupes, eu estou bem. Apenas precisava de falar um pouco, descontrair..."
"Ok. Qualquer coisa liga-me, ok?"
"Ok. Obrigado outra vez."
Ela estava deitada no sofá, enrolada num cobertor roxo. Beijei-lhe a testa e saí. Talvez ainda consiga dormir até à hora de almoço. Tinha planeado ir cortar o cabelo de manhã mas vou deixar para amanhã, não está assim tão mal e preciso de dormir mais um pouco.
Saio do prédio. O sol já nasceu e surge timidamente no horizonte, entre os prédios. Está um brisa fresca de início de dia. Agora apetecia-me parar num padaria e comprar pão quente. Mas saí sem dinheiro nenhum... trouxe só as chaves de casa e o telemóvel. No futuro, o saldo que tenho no cartão poderá ser utilizado como crédito para comprar qualquer outro produto. Provavelmente será possível encomendar pão quente e este será entregue em qualquer lugar, mesmo no meio da rua.
Gosto de pensar no que o futuro me reserva, principalmente nestes pormenores quotidianos, nestas comodidades urbanas. Mas tenho sempre a sensação que nada evolui realmente. Os telemóveis são das poucas evoluções que senti verdadeiramente transformarem a minha vida, a minha rotina. Lembro-me de combinar sempre os encontros com as minhas amigas no dia anterior, à noite, pelo telefone de casa. Agora, posso estar a sair do café, receber uma mensagem ou um telefonema e combinar algo. Prático e útil. Passei por uma pastelaria e senti o cheiro a bolos. Tenho o estômago a revolver-se e quase que a chamar-me através de suaves ruídos. Atravesso a estrada. A mercearia que fica ao lado do meu prédio astá agora a abrir.
"A vida é apenas um flashback."
Uma voz infantil, num tom quase mecânico soou-me no ouvido, como se tivesse alguém sentado no meu ombro. Virei-me para trás e não vi ninguém suficientemente perto para poder ter sido o autor desta fala. Apenas o Sr. Manuel estava próximo de mim e mesmo assim teria de gritar para o ouvir claramente, para além do facto da voz dele não se aproximar minimamente à que eu ouvi. Terei apenas pensado? Se calhar ouvi isto nalgum filme... Frase curiosa porém...
Tenho sono.

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