domingo

D01.05:03

A luz do ecrã começa a incomodar-me os olhos. Solto algumas lágrimas e sinto alguma irritação. É tarde. Devia estar deitado. Acho que qualquer pessoa acordada a esta hora pensará o mesmo. Quero inverter a ordem. Quero dormir de dia e viver de noite. Não porque sinta alguma especial atracção na escuridão, até me sinto intimidado quando ando na rua de noite, mas apenas porque não consigo dormir. Já tentei acordar mais cedo para ter sono mais cedo também, mas não resultou. Nunca consegui adormecer antes das três da manhã. Sei que não existe nada de realmente errado nisso. O corpo é meu, o distúrbio é meu. Porém, não consigo afastar o desejo de querer estar dentro do período normal de sono. Quero perder os programas que dão na televisão depois da uma da manhã porque é já demasiado tarde e não chegar ao ponto onde apenas vejo programas de televendas. Quero sentir-me cansado no final do dia e se não tiver feito muito quero somente sentir-me com sono. Agora, sinto-me cansado o dia todo ou melhor, a noite toda. Sinto-me exausto. Talvez alguma medicação me ajude a entrar na desejada rotina de descanso. De noite o tempo parece passar a uma diferente velocidade. Mais rápida. Parece que a noite tem pressa em terminar, em destruir todos os demónios que liberta. Também eu teria.
O telefone toca. Perturba-me ouvir o telefone a meio da noite. Os sons estão amplificados e mesmo sabendo antecipadadmente o que vai acontecer, não consigo evitar o sobressalto.
"Sim?"
A voz radiofónica esperada não se revela prontamente. Oiço alguns carros, um alarme.
"Tudo bem por aí?" Quase que penso que esta foi uma pergunta pessoal, quase que confundo controlo por simpatia.
"Sim. Tudo estável. Desde a última "crise" que tem estado a dormir. Acho que hoje não causará mais perturbações."
"Óptimo. Em breve também esta situação terá terminado. É bom saber que a nossa pequena divergência foi ultrapassada."
"Sim. Está tudo bem agora." Ódio.
"Então eu ligo mais tarde antes de passarmos por aí, ok?
"Ok."
A ligação terminou. Faz-me bem divagar... faz-me bem afastar a mente do crime que estou a cometer. Faz-me sentir humano. "Será que tem fome?" pensei.

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