terça-feira

D01.06:20

Tiro as chaves do bolso. Abro a porta do prédio com algum cuidado, não quero acordar ninguém a esta hora. Subo as escadas. Sinto-me bem por regressar. Todo o receio e insegurança de algumas horas atrás desapareceu. Ainda me sinto agoniado com o que aconteceu. Preciso lavar os dentes. Abro a porta. Quatro voltas. Fecho-a com cuidado e solto um longo suspiro. "Estou em casa." A frase soltou-se num tom suave e verdadeiro. Vou até à cozinha. Acendo, mais uma vez, a luz branca. Já podia abrir a janela, acho que o sol já nasceu. Como uma bolacha e bebo um pouco de sumo de maçã para tentar acalmar o perturbado estômago e alterar o sabor que tenho na boca.
Vou até ao quarto. Quero mudar de roupa. O despertador começa a tocar. Assustei-me um pouco, porém, este som é demasiado familiar. Nem depois de uma noite como esta e sem esperar minimamente que tocasse consigo sentir-me sobressaltado com o seu barulho utilmente irritante. Num dia normal estava agora a despertar. Ponho sempre o despertador programado alguns minutos antes de ter realmente que me levantar. Gosto de ficar algum tempo deitado a programar o dia e a lutar contra o sono e a preguiça. Mas hoje é diferente. Hoje antecipei o despertador. Sinto que antecipei todo o mundo. Vou tomar banho, vestir-me, comer mais qualquer coisa e sair. Vou chegar cedo ao escritório, o que só me beneficia.
A caminho da casa de banho reparo no telefone, na pequena luz vermelha a piscar. Tenho mensagens. Levanto o auscultador e pressiono na tecla do voice mail. A voz feminina automática do costume. Não me importava que variasse de vez em quando. Não sei porquê mas acho que esta voz pertence a uma mulher alta, loira e bonita. Talvez pense o mesmo de todas as vozes femininas que não conheço e que surjam no meu telefone. "Onde estás? Estou farta de esperar por ti. Espero que já tenhas saído de casa e estejas a caminho. Até já. Recebida às três horas e três minutos." Não reconheço a voz. É sem dúvida uma mulher. Jovem talvez. Não me parece loira porém... Não me lembro de combinar nada para hoje. Não me lembro sequer da última vez que combinei algo para uma noite. Desde que acabei com a Rute que não saio, a não ser em trabalho. Vou telefonar de volta e tentar esclarecer isto. Oiço de novo a mensagem e aponto o número num "post-it" amarelo que tinha ao lado do telefone. Digito o número. É de um telemóvel. "O número que ligou não está disponível, por favor, tente mais tarde." Outra voz automática pertencente a uma bonita loira. Parece que este mistério terá que ficar para "mais tarde". Talvez seja a mulher que esteve aqui no início da noite... Mas sinceramente não quero pensar em nada disto agora. Vou refrescar-me e trabalhar.

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