segunda-feira

D01.03:10

"O que é que eu estou a fazer?". Estou há mais de uma hora, no meio da noite, à procura de uma mulher que não conheço. Nem sei para onde ir. O tempo que demorei a vestir-me serviu perfeitamente para que desaparecesse por completo. Provavelmente tinha carro e a esta hora está em casa, a dormir, que é o que eu também deveria estar a fazer. Mas não consigo... não me sinto minimamente cansado ou com sono.
Creio que não vale a pena continuar a busca. Nem sei bem onde estou... As ruas parecem sofrer uma metamorfose durante a noite. De certeza que já aqui estive, de dia, mas agora tudo me parece estranho, desconhecido, como uma cidade estrangeira que se visita pela primeira vez. Não estou numa parte muito boa da cidade. Vejo um mendigo a dormir nas traseiras de um restaurante de comida chinesa. Não consigo imaginar como será ter de viver na rua... ao relento... sem ter um lugar certo, sem ter um último refúgio. Sinto-me extremamente ligado à minha casa, ao meu lar, seja ele onde for. Meu. Talvez seja por esta ligação ser tão forte que tenho algum receio de regressar...
Vejo uma mulher, aparentemente uma prostituta, uns metros mais à frente. Vou pedir-lhe que me indique a rua principal, assim que estiver lá posso decidir para onde ir. Talvez um bar...
"Boa noite."
"Boa noite querido. Que andas a fazer por aqui? Procuras alguma coisa?"
"Por acaso sim. Podia dizer-me como chego à rua principal? Não consigo orientar-me bem de noite por estas ruas estreitas."
"Talvez se tivesses conseguido mexer-te, talvez pudesses saber o que realmente se passou. Mas o medo apoderou-se do teu corpo, não foi? Eu compreendo isso. É uma pena..."
"Desculpe? Do que é que está a falar? Você conhece-me de algum lado?"
"Não fazes a mínima ideia do que se passa pois não? Enfim... basta seguires em frente, viras à esquerda, passas o talho, viras de novo à esquerda e vais dar à rua principal. Ok?"
"Ok... obrigado."
Estranha personagem. Afastei-me com alguma rapidez. No meio das palavras que me disse, algo de perturbante indicava que ela sabia algo que pudesse explicar, de alguma forma, o que tem acontecido hoje. Talvez deva regressar e insistir em saber o que é que ela queria dizer com o facto de eu não saber "o que se está a passar". Olho para trás, um táxi parou à frente dela. Fico a observar aquilo que me parece óbvio. Ela encosta-se ao carro, no lado do condutor. Duas ou três palavras depois e ela entra, pelo lado do passageiro. Tarde demais. Continuo a andar. Preciso de me sentar e pensar no que vou fazer, no que me está a acontecer.

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